sexta-feira, 20 de agosto de 2010

História das Diferenças

História das Diferenças

Nos primórdios da cultura ocidental, a PAIDÉIA, modelo de educação e formação do homem grego, se propunha a ordenar o caos das sociedades então espalhadas pelos continentes ora conhecidos, disciplinar a confusão de culturas e tradições, costumes e mentalidades, que se chocavam umas com as outras, e organizar os seus valores éticos e espirituais, as suas normas sociais, culturais e ambientais, os seus princípios de mente, de corpo e de espírito, e suas raízes históricas e geográficas, seus contextos cotidianos e seus ambientes de realidade carregada das controvérsias humanas e naturais, de conflitos entre pessoas, de dificuldades entre grupos e indivíduos e seu convívio nas ruas e em casas, nas famílias e nos trabalhos, nos campos e nas cidades, de problemas, novidades e diferenças de comportamento, de consciência individual e coletiva, de experiências de contrários e das adversidades que a própria vida nos coloca, visto que a condição humana estabelece limites à natureza e consolida fronteiras ao universo sem limitações físicas, pois o espaço é sem fim, o tempo é eterno e a história convive com suas finitudes materiais ao mesmo tempo que apela para as infinitudes do pensamento além, longe das definições do conhecimento possível e distante das determinações morais e religiosas, científicas e tecnológicas, artísticas e filosóficas, impostas por nossa existência de bloqueios psicológicos e de barreiras ideológicas, para depois, mais tarde, racionalizar todo esse repertório de interpretações gerais, tornar inteligíveis os processos de obtenção do saber, e gerir intencionalmente os destinos da espécie humana e seus contatos e efeitos na realidade de cada dia e de toda noite, e das madrugadas experimentadas pelo conjunto da humanidade. Observa-se aqui e agora que a racionalidade combate a desrazão, o bom-senso luta contra a insensatez e o nosso juizo das coisas batalha enfrentando as oposições de uma mente provavelmente desequilibrada, transtornada em si mesma, e cheia de distúrbios oriundos de uma irracionalidade sem fundamentos e de uma irrealidade sem sustentação na consciência dos homens e das mulheres que fazem a história e encaminham para si e os outros as metas de seus caprichos e os objetivos de seus arbítrios vestidos talvez de uma inteligência produtora de conteúdos sensatos, em nome da razão projetora e planejadora de idéias e ideologias, símbolos e imagens, valores e princípios, sons e linguagens de vídeo e de cinema. É nesse clima de interpretações paradoxas que se faz a história da humanidade.

O Processo Crítico e Dialético da Formação da Consciência do Homem e da Mulher na História da Humanidade

A Vida é feita de diferenças. No decorrer da história, desde o tempo antigo até os dias atuais, o sujeito sempre contracenou com o objeto, a luz com as trevas, o feijão com o arroz, a realidade com a racionalidade, a essência com a aparência, a paz com a violência, o amor com o ódio, a vida com a morte, o certo com o errado, o bem com o mal, o direito com a falsidade, o vício com a virtude, a ordem com o caos, o homem com a mulher, o boi com a vaca, a flor com o fruto, o oxigênio com o gás carbônico, Deus com o diabo, a noite com o dia, o verão com o inverno, o novo com o antigo e assim por diante. As diferenças nos uniam e nos separavam, nos assemelhavam e nos contradiziam uns com os outros. Tudo sempre foi diferença. Todos sempre foram novidades que surgiam, contrários que nos dividiam, surpresas que nos maravilhavam, adversidades que nos dialetizavam, contradições que isolavam a bondade da maldade, o preto do branco, o galo da galinha, a graça do pecado, o fino do grosso, o grande do pequeno, o maior do menor, a presença da ausência, o cheio do vazio, o tudo do nada, o absoluto do relativo, o necessário do contingente, a substância do acidente, sempre refletindo para todos nós, habitantes do Planeta Globo, que a natureza e o universo, a existência humana e divina, viviam de contrários, ou de detalhes diferentes, de coisas miúdas em contraste com seres graúdos, até que assim compreendêssemos a realidade cotidiana como ela é, sempre foi e assim o será eternamente. Sim, não somos iguais, mas diferentes. E a história da consciência humana sempre revelou essa alteridade de princípios e contrariedade de valores, que juntos ou separados passaram a constituir o conhecimento para o qual o pensamento se une à realidade, desnudando pois a verdade das idéias concebidas em contato com a experiência cotidiana. Justamente essa transparência do contexto real e atual em que vivemos hoje, aqui e agora, faz-nos entender que a realidade vivida é construida a partir das diferenças conscientemente adquiridas, ambientalmente praticadas e eticamente possuidas, originando pois as relações humanas e sociais, a interatividade de comunidades e o compartilhamento de conteúdos físicos, mentais e espirituais. Nesse intercâmbio de atividades comuns, os relacionamentos se aproximam ou não, as atitudes se convergem ou não, e as experiências se fazem concordantes ou assumem um compromisso com a violência das ações e a agressividade de comportamentos várias vezes insensatos e desequilibrados, aumentando ainda mais o abismo entre as partes opostas, causando mal estar nas sociedades divididas pelo erro de seus agentes comunitários que deveriam antes construir do que destruir, criar condições de liberdade ou situações de felicidade e não simplesmente produzir a escravidão patológica ou a prisão de consciências subordinadas umas às outras. Em tal estado dialético de posições, gera-se a realidade e produz-se o cotidiano. A História é dialética.

Fundamentos da Interpretação

A Realidade é única. Todavia, a interpretação da realidade é variada, múltipla e polivalente. Sua hermenêutica mostra que os pontos de vista das pessoas podem convergir ou se distanciar, concordar ou se afastar, o que significa que a vida é relação, relação de opostos, de contrários que produzem a economia dos povos e a riqueza ou pobreza das nações, sua cultura excelente ou miserável, sua política de alternativas diversas, suas sociedades articuladas em instituições e entidades governamentais ou não, propriedades privadas ou organizações públicas, sociais e coletivas, seus negócios produzidos com austeridade absoluta ou com a relatividade das ações morais, seu complexo de arte, lazer e esporte, e demais atividades recreativas, geradas tendo em vista a saúde dos indivíduos e o bem-comum das comunidades e o bem-estar geral da humanidade. Assim funciona a realidade cotidiana. Seu fluxo de possibilidades é dinâmico e ativo, seu complexo de boas tendências segue a lógica do progresso econômico e financeiro, a emergência social, cultural e ambiental, a emancipação ética, política e espiritual, o desenvolvimento dos recursos que satisfazem os nossos desejos naturais e realizam as nossas necessidades humanas, a evolução da consciência segundo a viabilidade da produção de conteúdos de conhecimento de qualidade, de experiências de crescimento em valores positivos, princípios de vida estáveis, normas sociais consistentes e raizes existenciais seguras que possam garantir a magnitude de uma vida onde seus direitos sejam compreendidos e respeitados, e seus deveres e obrigações, compromissos e responsabilidades cumpridos com sabedoria de vida de quem luta paraser alguém na vida, e fazer da liberdade a sua condição de felicidade. Esses fenômenos interpretativos demonstram que a consciência humana evolui hermeneuticamente, de acordo com os contextos reais e atuais do tempo e da história e segundo os parâmetros transcendentais de sua realidade em si, de si, por si e para si. Somos pontos de vista diferentes e até contrários, semelhantes ou antagônicos, construtores dos símbolos da história de todos os tempos e lugares, organizadores do cotidiano que vivemos, disciplinadores de nossa racionalidade real e ordenadores da vida praticada em sociedade. Somos intérpretes de uma realidade em mudança, que se transforma para melhor ou pior, dependendo da metamorfose operada em nossa consciência de valores bem ou mal orientados e de princípios bem ou mal vividos. Depende de nós o progresso. Depende fundamentalmente do Fundamento de nós o destino bom de nossas vidas materiais e espirituais.

As Sínteses transformam a realidade

Recordo-me de Hegel, filósofo da era moderna, contemporâneo de Karl Marx e Engels, fundadores do Partido Comunista de 1848, em plena crise industrial na Inglaterra, que dissera então que a vida é uma dialética, que se inicia com uma Tese, contraposta por uma Antítese, que, ao final das contas, seria resumida por uma Síntese, fenômenos da realidade cotidiana, que constituem os fatos históricos, determinam o comportamento das sociedades, interferem na iniciativa de grupos e indivíduos que se relacionam e mantêm atitudes de convívio social e político, econômico e cultural, definem suas consciências e seus conteúdos em forma de conhecimento, ética e espiritualidade, intervêm no destino dos povos, no presente e futuro da natureza e do universo, e estabelecem a lógica do cotidiano cujo sentido é o movimento de contradições internas que fazem os acontecimentos da vida de cada hora, de todo momento e de alguns instantes. Sim, somos dialéticos. Eis o que torna possível as diferenças da realidade e os detalhes do cotidiano. Eis o que mobiliza a infra-estrutura das nações e seus efeitos econômicos, científicos, políticos e tecnológicos, sociais e culturais, configurando assim a racionalidade das comunidades que compõem as localidadese regionalidades, e globalidades, em que se insere o conjunto da humanidade. Com efeito, sintetizados nossas ações a cada minuto, e as transformamos em novas e diferentes teses e antíteses, que, por sua vez, serão outras sínteses a mais, o que reflete o dinamismo do cotidiano, seus opostos que interagem, seus contrários que se contagiam uns aos outros, englobando em si idéias e ideais em conflito, ideologias e partidos em oposição, simbologias e imagens problemáticas, princípios e valores que se chocam para produzir melhorias no ambiente vivido ou condições piores ainda de sobrevivência. É onde surgem as atitudes ecléticas que de tudo e em todos retiram sempre algo de bom e que certamente fará bem ao contexto temporal das sociedades, então globalizadas, que realizam intercâmbios culturais, que efetizam entre si o troca-troca de idéias e conhecimentos, que inventam posturas éticas complicadas ou geram posições espiritualizadas em acordo com a saúde do Planeta e o bem-estar das populações mundiais. Sim, a tendência, diante de toda essa panafernália dialética. É que sejamos ecléticos. Talvez sejamos ecléticos por natureza.

A Essência do Cotidiano

A Experiência do dia a dia da nossa vida nos revela que os fenômenos da realidade cotidiana estão permanentemente em choque produzindo conflitos e aberrações em que o bem e o mal se debatem, duelam um com o outro, se confrontam mutuamente, disputando um lugar ao sol, um jeito diferente de se fazerem presentes na vida da humanidade e seu ambiente de família e trabalho, de rua e supermercado, de restaurante e shopping, de convívio social e cultural, político e econômico. De fato, a contradição é a marca registrada da vida cotidiana. Nela, a paz das pessoas combate com a violência das ruas, o bem que se faz batalha contra a cultura da morte e da maldade, os apelos de vida em abundância fazem uma guerra constante em face da pobreza e da miséria de muitos, o amor de grupos e indivíduos e suas práticas generosas de fraternidade e solidariedade lutam contrariando as forças do ódio e do egoísmo e da mentalidade que prega a prisão ideológica e a escravidão psicológica das pessoas, o direito e o respeito contradizem as experiências de hipocrisia, falsidade e ausência de transparência ética e espiritual, a ordem e a justiça social controlam a confusão das consciências e as adversidades da experiência diária e noturna, o desejo de liberdade que aumenta as oportunidades de vida e dilata as possibilidades de trabalho contrapõe-se às limitações físicas, mentais e espirituais dos seres humanos, a busca da felicidade pessoal e coletiva parece dominar os contrários de quem faz da tristeza e da angústia, do medo e do pânico, da aflição e do desespero as suas únicas alternativas de existência e quem sabe as respostas mais reais e atuais do povo das ruas e das famílias em casa na sua procura por ser alguém no meio da sociedade, a saúde individual e o bem-estar das gentes aspiram por superar as doenças biológicas, as moléstias sociais e as enfermidades materiais e espirituais, cultivando a bondade que constrói e criando novas e diferentes opções de bem viver a vida em comunidade, e assim por diante. Eis pois o cotidiano, ferido pelas balas perdidas de policiais duelando com bandidos, machucado pelos assaltos a banco promovidos por traficantes, adoecido pelos seqüestros-relâmpagos de pessoas de bem e trabalhadoras, cego pelo tráfico de drogas e a corrupção moral de grande parte da coletividade, e escravo da violência que mata e da agressividade que ignora o bem alheio e a sua paz tão indispensável, a calma da sua alma e a sua tranqüilidade espiritual. Assim é o contexto real e atual, temporal e histórico da realidade de cada dia vivida por nós aqui e agora. Eis então que surge alguém que decide mexer nessa máquina de produzir contradições, intervir em seu processo enlouquecedor das consciências e interferir a favor do bem ou do mal tendo em vista gerar o movimento em prol ou não do bem-estar da humanidade e do bem-comum da sociedade, para isso escolhendo o caminho da liberdade que constrói a verdadeira felicidade das pessoas diminuindo os riscos de uma experiência negativa e pessimista de quem faz da maldade o sentido da sua vida e da violência a razão do seu existir. Sim, a realidade está aí, aqui e ali querendo de nós uma decisiva intervenção capaz ou de melhorar as suas condições e relações de vida e trabalho, saúde e educação, ou de piorar as suas situações dialéticas de vida e as suas circunstâncias críticas de existência, deixando pois por nossa conta o caminho da felicidade ou não da sociedade em que vivemos neste mundo em mudança contínua e em processo aberto de construção de novas e diferentes possibilidades de progresso material e espiritual, e de evolução física e mental. A Opção é nossa. Cabe a nós interferir bem ou não nesse processo. Os resultados de nossas escolhas decidirão o destino do cotidiano das pessoas com quem compartilhamos os direitos e deveres de cidadania no interior dessa sociedade complexa cujo fluxo de experiências negativas e positivas, pessimistas e otimistas, devem nos fazer refletir e decidir pelo melhor caminho de vida, a boa via da salvação e a estrada libertadora de nossas misérias sociais e culturais. Só depende de nós crescer ou não. Que Deus nos ajude a encontrar a melhor solução nesse caso. Ou o caminho do desenvolvimento sustentável. Ou o atraso e o regresso de uma ética comprometida com a cultura da morte e a mentalidade da violência e da maldade. Que Deus nos oriente nessa hora.

A Vida é uma Dialética

Muitas vezes em nossa vida diária através de uma idéia que surge em nossa mente construímos um mundo de possibilidades para a nossa existência, criamos novas realidades e diferentes experiências, produzimos ricos conteúdos de conhecimento de qualidade, como em um processo TESE – ANTÍTESE – SÍNTESE, que denominamos de movimento dialético, onde um fenômeno que acontece no cotidiano é contraposto por outro, e este por sua vez sofre uma diversa contradição gerando então um fenômeno agora transformado, resumo dos contrários que o antecederam, produto das adversidades que o geraram. Assim é a vida de cada dia e de cada noite. Vivemos por meio de contradições, que se guerreiam umas com as outras, gerando novos contrários e diferentes realidades contraditórias cuja síntese é um perfeito universo de experiências que tendem para o bem que fazemos e para a paz que vivemos, visto que a nossa natureza é boa originalmente, porque vem de Deus, e tudo o que ela cria e propaga caminha para a nossa felicidade e bem-estar, desenvolvendo em nós, de nós e para nós, e por nós, a boa liberdade que se identifica com o direito e o respeito vividos, a responsabilidade em nossas atitudes e relacionamentos, o juízo e o bom-senso em nossas atividades, o nosso equilíbrio mental e emocional, o controle da nossa cabeça e o domínio de nós mesmos.. Portanto, através de contradições sempre novas e diferentes vamos construindo a vida, articulando outras realidades e condicionando diversas experiências fecundas e profundas, sempre nesse processo dialético em que uma palavra produz palavras que se contrariam que por seu lado geram outras palavras que se contradizem, permitindo ao final a síntese de uma ótima ideologia transformadora, que então modifica para melhor os nossos ambientes de vida, metamorfoseando o nosso cotidiano, dando-nos pois a possibilidade de uma vivência mais ordeira e pacífica, mais fraterna e solidária, mais livre e feliz, mais saudável e agradável. Viver portanto é contradizer e contradizer-se, o que nos propicia novas atitudes perante a realidade, diferentes olhares sobre o cotidiano, outras posturas sociais diante dos problemas, gerando-nos uma vida de possibilidades múltiplas e de alternativas diversas, mais rica em conteúdo e mais perfeita na sua experiência de cada instante. Somos dialéticos. Por meio da dialética, o mundo se desenvolve, a vida se processa, a realidade progride, o ambiente evolui, e crescem as nossas melhorias sempre mais abertas e libertas, renovadas e restauradas, recuperadas e regeneradas, em um movimento perene de grandes descobertas que se concretizam e de gigantescas revelações que nos surpreendem a todo momento. Dialetizando, a vida se constrói. Ficamos mais ricos. Nos tornamos mais perfeitos. Aumenta a nossa qualidade de existência. Superamos limites. Ultrapassamos obstáculos. Transcendemos as barreiras dos preconceitos mentais e das superstições religiosas. Vivemos então a excelência de uma realidade humana, naturalmente constituída e culturalmente desenvolvida. Metamorfoseamos assim as nossas experiências e situações diurnas e noturnas. Nos transformamos para melhor. De bem com a vida e em paz conosco mesmo, vamos gerando novas dialéticas e fazendo das contradições presentes que aqui e agora se processam pontes para a felicidade, ferramentas de renovação interior e exterior e instrumentos de libertação material e espiritual, física e mental. Que Deus abençoe pois as nossas dialéticas cotidianas.

A Pedagogia das Possibilidades
A Construção das Tendências
A Articulação da Linguagem
A Negociação dos Detalhes

Nenhum comentário:

Postar um comentário